No último dia 18, faleceu aos 60 anos de idade, vítima de câncer, a atriz holandesa Sylvia Kristel, que se tornou musa do cinema e da liberação sexual nos anos 70, quando aos 22 anos protagonizou aquele que seria lembrado como um dos filmes mais sensuais de todos os tempos e um dos maiores clássicos dos filmes eróticos “Emmanuelle” (1974).
Em julho passado, a atriz sofreu um AVC e nos últimos tempos, vinha se submetendo a um tratamento contra um câncer na garganta, que já havia atacado também o pulmão. Sylvia Kristel lutava contra a doença há cerca de 10 anos.Nos últimos anos, a atriz, considerada um dos maiores símbolos sexuais da história do cinema, não era vista com frequência, o que só aumentava os rumores do agravamento de seu estado de saúde.
Sylvia Kristel nasceu em Utrecht, na Holanda, em 28 de setembro de 1952. Começou a se destacar aos 17 anos de idade, quando se dedicava à carreira de modelo. Seu sonho de infância, no entanto, era ser professora. Em 1972, foi eleita “Miss TV Europa”, o que lhe rendeu certo reconhecimento nos bastidores da televisão e consequentemente, no cinema, seu próximo passo. Aliás, essa carreira veio em decorrência de seu próprio comportamento, já que a sensualidade que marcou sua carreira futura vinha desde a juventude, pois mesmo estudando em um convento, gostava de dançar nua nas mesas de restaurantes, dizia a própria atriz.
Tornou-se mundialmente conhecida, quando em 1974 protagonizou o filme “Emmanuelle”, baseado na obra de Marayat Bibidh Andriane, sobre uma jovem disposta a conhecer e ultrapassar os limites de sua própria sexualidade. O filme de Just Jaeckin é considerado como um dos pioneiros a mostrar explicitamente a nudez e o sexo na tela, numa época em que isso era considerado tabu.
O filme é considerado um marco na história do cinema erótico por apresentar cenas explícitas de sexo, além de mostrar outros elementos como masturbação e pompoarismo, uma milenar técnica de contração e relaxamento dos músculos circunvaginais, a fim de se obter prazer sexual. Um escândalo para a época, mas que rendeu muito dinheiro e sucesso.
O filme arrecadou mais de 100 milhões de dólares em bilheteria e abriu as portas para o gênero de cinema erótico se tornar mais popular e ganhar platéias mais amplas. O sexo, nesses filmes, não é como na indústria pornô, em que as cenas são o único e verdadeiro atrativo na produção. O cinema erótico aborda a sensualidade de suas mulheres, a delicadeza das cenas, mesmo as mais explícitas, de forma a tratar o sexo como um momento de êxtase e prazer para o expectador, que assiste a uma cena bem feita e esteticamente bem construída. Muito disso deve-se à Sylvia Kristel.
Nos anos que se seguiram ao sucesso de “Emmanuelle”, Kristel participou de mais filmes, reprisando a personagem que a consagrou. Mesmo não sendo a primeira atriz a viver o papel, Sylvia Kristel é a que mais está relacionada ao nome. Outras atrizes protagonizaram filmes de “Emmanuelle”, mas ao longo da história desses filmes, Sylvia Kristel fez inúmeras aparições, mantendo-se como a maior musa erótica do cinema.
A atriz também atuou em outros filmes fora do circuito erótico, atuando ao lado de diretores de renome europeus, como Claude Chabrol, Roger Vadim e Alain Robbe-Grillet. Mostrou-se uma boa atriz, refinada e de talento, mesmo que jamais tenha conseguido se desligar da imagem de sua sensual personagem. Durante os anos 70, participou de muitos filmes, até que em 1979, se mudou para Hollywood, a fim de dar um novo rumo à sua carreira. Enfrentando dificuldades em conseguir papeis nos Estados Unidos, a atriz se envolveu com o vício em drogas, principalmente, em cocaína.
Nos anos 80 fez pequenas participações em diversos filmes, longe dos tempos em que era a estrela. Isso a obrigou a explorar novamente sua sensualidade e nudez na tela, em filmes como “O Amante de Lady Chatterley”, de 1981 e como a espiã Mata Hari, no filme homônimo de 1985. Participou de algumas comédias de baixo orçamento como “A Bomba que Desnuda” (1980), “Uma Professora Muito Especial” (1981) e “Uma Escola Muito Especial – Para Garotas” (1983), sempre em papeis sensuais.
Sua carreira nos anos 90 e início do novo século continuou sendo marcada por papeis sensuais, como algumas versões de Emmanuelle e participações esporádicas.
No ano de 2006, escreveu sua autobiografia, intitulada “Nua” (Undressing Emmanuelle, no original), contanto sua trajetória de sucessos e fracassos, como a fama que alcançou com seus filmes e o vício em drogas e álcool que a acompanhou por longos anos. Fumava desde os 11 anos de idade.
Uma história de fama, idolatria e quedas, como a doença que infelizmente vitimou um verdadeiro mito do cinema, uma mulher que faz parte do imaginário masculino de várias gerações, justamente por ter mostrado a beleza, delicadeza e plenitude da maior de todas as criaturas, a própria mulher.
Desde que estrelou seu primeiro filme, Sylvia Kristel tornou-se odiada por uns e amada para outros. Sua presença marcante na tela a fez um ícone do século XX e mesmo nos deixando tão jovem, jamais deixará se ser lembrada como tal.
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