quinta-feira, 14 de maio de 2015

Akira Kurosawa


Akira Kurosawa nasceu no dia 23 de março de 1910, em Oimachi, no distrito de Omori, na cidade de Tóquio, no Japão e seu pai Isamu Kurosawa era descendente de samurai e trabalhava para a Prefeitura de Akita, como instrutor de educação física numa escola secundária.


Sua mãe Shima Kurosawa era descendente de comerciantes da cidade de Osaka e ela tinha quarenta anos de idade quando Akira nasceu. O casal teve ao todo oito filhos e Akira era o caçula e apesar de seu pai, como todo japonês, ser bastante enérgico com seus filhos, era um homem de mente bastante aberta para as coisas do mundo.


Sendo assim, por diversas vezes costumava, na medida que podia, costumava levar toda a família para ver os bons filmes no cinema, além de incentivar os filhos a conhecerem as tradições ocidentais, sua literatura e também a cuidar bem de seus corpos através de exercícios físicos.


Certo dia num comentário, Kurosawa afirmou que seu pai foi o seu incentivador para que ele tornasse um diretor de cinema. Por volta de 1923, Akira começou a freqüentar a escola e lá passou a ter aulas de caligrafia japonesa, uma arte milenar nipônica e também como era um bom esportista, tornou-se o capitão de Kendo no clube da escola.


Mas, para a decepção do pai, Akira não se mostrava um aluno muito interessado em sua formação artística, assim como também não conseguiu passar no ingresso para uma escola de arte de nível elevado. Apesar disso, Akira se uniu a uma Liga de artistas proletários, e em 1929 passou a contribuir para um jornal radical adeptos aos conceitos comunistas, bem como trabalhar fazendo artes em agências de propaganda. Depois de alguns anos Kurosawa se desligou completamente do seu radicalismo.


Também foi morar com seu irmão mais velho chamado Heigo, da qual Akira recebeu uma grande influência e conhecimento. Certa vez em 1923, quando ocorreu o grande terremoto que devastou a cidade de Tóquio, seu irmão o levou para ver a catástrofe e quando Akira tentava desviar o olhar para os cadáveres humanos e carcaças dos animais espalhados por toda a parte, seu irmão o proibia de fazê-lo, incentivando-o desta forma a enfrentar seus medos, confrontando-os diretamente.


Esse fato foi muito importante na vida de Kurosawa e esse ensinamento ele carregou por toda sua vida, tanto que muitos comentaristas de suas obras gostam de citam que ele raramente hesitava em enfrentar as verdades desagradáveis de sua própria criação artística, encarando-as diretamente.


Foi na época que morou com seu irmão, que Akira teve as melhores oportunidades de poder assistir grande parte dos filmes que mais tarde iriam influenciar sua obra, além de peças teatrais e perfomances circences, enquanto também arriscava a fazer algumas exposições mostrando suas pinturas.


Seu irmão Heigo era um homem bastante talentoso e depois que terminou a escola passou a viver sozinho, independentemente da sua família e concentrando seus interesses na literatura estrangeira e já no final dos anos 20 trabalhava como narrador de filmes mudos nos teatros de Tóquio, que exibiam filmes estrangeiros e assim Heigo já era um nome bastante conhecido.


A convivência de Akira com seu irmão Heigo foi muito importante, pois os dois eram muito amigos e o irmão com seu conhecimento sobre o cinema, as artes em geral, incentivava o irmão caçula a conhecer obras, principalmente de artistas estrangeiros, onde Heigo tinha grande conhecimento.


Mas com a chegada do cinema sonoro, o trabalho de Heigo começou a minguar, a situação ficou difícil, assim como para Akira que não conseguia sobreviver ganhando a vida somente com a arte e foi perdendo seu interesse pela pintura e sem trabalho retornou a casa de seus pais novamente.


Pouco tempo depois, sua família recebia a noticia, em julho de 1933, que Heigo havia se suicidado e também pouco tempo depois um outro filho também morrera, deixando a família bastante triste e arrasada.  Nos anos 20 também a irmã de Akira chamada Momoyo Kurosawa também havia morrido.


Akira era o único filho a morar com seus pais, juntamente com suas irmãs. Os detalhes de muitos anos da vida da família Kurosawa, principalmente entre os anos de 1933 a 1935, são bastante obscuras e pouca coisa se sabe dela.


Em 1935, o estúdio cinematográfico Photo Chemical Laboratories, que mais tarde se tornaria a famosa Toho Studios, anunciou que estava precisando de contratar assistentes de direção. Embora Akira não demonstrasse grande interesse, mas mesmo assim se candidatou e na entrevista com o diretor Kajiro Yamamoto, caiu em seu gosto, pois Akira era um rapaz engraçado e simpático.


Assim em 1936, Kurosawa começou a trabalhar como assistente de um dos diretores mais bem sucedidos do Japão, Kajiro Yamamoto. Durante cerca de cinco anos Kurosawa atuou como assistente de direção, não só para Yamamoto, mas também para outros diretores do estúdio, e também sendo reconhecido por Yamamoto em diversas ocasiões, promovendo-o com melhor salário, o que ocasionou também um aumento substancioso em suas responsabilidades nas diversas fases do desenvolvimento de um filme.


Yamomoto via em Kurosawa muito talento e por isso sempre lhe passava dicas importantes sobre as filmagens e certa vez disse ao jovem Akira, que para ser um bom diretor era necessário e primordial dominar muito bem o roteiro. Isso levou o jovem Akira a pensar seriamente nos roteiros, principalmente porque ela rendia ganhos bem superiores aos de um assistente de direção e desta forma ele passou a estudar os roteiros com bastante afinco para aprender todos os seus macetes.


Em 1941, o jovem Akira já escrevia alguns roteiros e também dirigia algumas partes do filme “Uma”, que significa cavalo em japonês, de Yamamoto, bem como começou a procurar por histórias que pudesse lançá-lo como diretor. No final de 1942, um ano após a entrada do Japão em guerra com os Estados Unidos, um livro do escritor Tsuneo Tomita, inspirado na vida do judoca Sugata Sanshiro, deixou o jovem Akira muito curioso e intrigado.


Apesar da guerra, Akira não serviu o exército, pois fora considerado inapto ao serviço militar obrigatório. Desta forma Akira pode continuar a trabalhar no estúdio. Empolgado com a obra de Tomita, comprou e devorou o livro e imediatamente solicitou ao estúdio, na época já era conhecida como Toho Studio, para garantir-lhe os direitos de filmagem da obra. Pouco tempo depois outros diretores também a solicitaram, mas a Toho garantiu os direitos para Kurosawa, que ao primeiro sinal verde começou a trabalhar na pré-produção de seu primeiro trabalho como diretor.

As filmagens de “Sanshiro Sugata” começaram na cidade de Yokohama, em dezembro de 1942, onde também passou a enfrentar problemas com a censura e somente através da intervenção do diretor Yasujiro Ozu, que patrocinou o filme, que “Sanshiro Sugata” foi finalmente concluído e lançado nos cinemas japoneses em 25 de março de 1943, e se tornou um sucesso tanto de crítica, bem como comercialmente.


Para o próximo filme, Kurosawa procurou explorar como tema as mulheres operárias da guerra e assim filmou em 1944 “Ichiban Utsukushiku”, também conhecido como “The Most Beautiful” (A mais Bela), que retratava o Japão durante a guerra mostrando várias mulheres que trabalhavam numa empresa de instrumentos ópticos, sob o controle de um paternalista diretor.


O filme mostrava a luta das mulheres para trabalhar em péssimas condições e além de terem de obter o máximo de produção, tinham que lidar também com as enfermidades, mas eram sempre perseverantes e dedicadas ao seu trabalho para às causas de seu país. Era um filme propaganda no estilo semidocumentário.


Durante as filmagens passou a ter um romance com a atriz Yoko Yaguchi e os eles se casaram no dia 21 de maio de 1945 e dois meses depois ela estava grávida e nunca mais retornou a sua carreira de atriz. Nessa época, pressionado pelo estúdio passou a produzir “Sanshiro Sugata Part II”, que chegou aos cinemas em maio de 1945, mas não atingiu o mesmo sucesso do primeiro.

 

O filme retratava o Japão pós-guerra, após a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, e seu conteúdo tinha bastante reflexo nacionalista, mas não fazendo alusão de superioridade do Japão sobre qualquer outra nação. Ao invés disso, o filme tentava focalizar a resistência ao abuso das forças de ocupação. O filme descrevia principalmente as lutas marciais, especificamente o boxe ocidental contra o judô e o judô contra o karatê.


Retratava Sanshiro Sugata um judoca participando de ambas as modalidades, mas sempre de acordo com o espírito do judô, não procurando machucar seus adversários sem necessidade. Também derrotava seus adversários utilizando para isso não tanto a força e a violência, mas sim a eficiência, sem agressão. O filme é em preto e branco  tendo no elenco Susumu Fujita, Denjiro Okochi e kokuten Kodo, entre outros, e músicas ao cargo de Seiichi Suzuki.


Para o próximo filme, ainda em 1945, Kurosawa decidiu ele próprio a escrever todo o roteiro, e assim nasceu “Tora no Wo Fumu Otokotachi”, também conhecido por “The Men Who Tread on the Tiger´s Tail”, e no Brasil por “Os Homens Que Pisam na Cauda do Tigre”, baseado numa peça teatral do tradicional denominado “Kabuki Kanjinchô”, que por sua vez é baseada na obra de Noh Ataka.


O filme era estrelado por Hanshiro Iwai, Susumu Fujita, Kenichii Enomoto e Denjiro Okochi, nos papéis principais, filmado também em branco e preto, com músicas a cargo de Tadashi Hatori e com duração de aproximadamente 58 minutos. Aliás, uma grande parte dos filmes de Kurosawa é em preto e branco.


O filme retrata o ano de 1185, quando o clã Heike é derrotado pelo líder do Exército de Genji, sob o comando de Yoshitsune, que era esperado em Kyoto para a sua comemoração, mas seu irmão, o xogun Yorimoto, resolve matá-lo. Yoshitsune foge e leva consigo seis leais guerreiros, todos disfarçados de monges e vão a procura de Hidehira Fujiwara, da fronteira além do império do xogun Yorimoto, para buscar ajuda e se reestruturar.


O filme não pode ser apresentado após a sua filmagem e foi inicialmente banido pela Forças de Ocupação Japonesa, por retratar valores tradicionais feudais. O filme só conseguiu ser liberado e fez sua estréia no Japão em 24 de abril de 1952, como uma decorrência do Tratado de São Francisco, neste mesmo ano.


Kurosawa depois da guerra, com o Japão rendido e ocupado pelas tropas norte-americanas, começou a ter problemas com os censores americanos, mas logo passou a absorver também os ideais democráticos da Ocupação, procurando fazer filmes de acordo e assim estabeleceu novas e boas relações.


Em 1946 filmou “Waga Seishum ni Kuinashi”, também conhecido como “No Regrets for Our Youth”, e no Brasil como “Não Lamento Minha Juventude”, produzido por Keiji Matsuzaki, roteiro de Eijiro Hisaita, Akira Kurosawa e Keiji Matsuzaki, direção de Akira Kurosawa e música a cargo de Tadashi Hattori.


O filme foi estrelado por Setsuko Hara, Susumu Fujita e Denjiro Okochi nos papéis principais, cujo personagem de Fujita era baseado na vida real de Hotsumi Ozaki, que ajudou o famoso espião soviético Richard Sorge e desta forma tornou-se o primeiro cidadão japonês a sofrer a pena de morte por traição durante a Segunda Guerra Mundial. O filme chegou aos cinemas japoneses em 29 de outubro de 1946.


O filme tem início de sua história datada em 1933, com os protestos dos estudantes da Universidade Takikawa contra a invasão japonesa na Manchúria. Por causa disso o professor Yagihara é afastado do cargo devido as suas convicções contra o fascismo.


O professor tem uma filha chamada Yukie que é cortejado por dois rapazes, também alunos de seu pai, um chamado Itokawa um rapaz seguro e sensato e por Noge, totalmente contrário do outro. A moça é inicialmente atraída por Noge, mas ele desaparece após um protesto estudantil e fica preso por quatro anos, dando início assim do desenvolvimento da trama do espetáculo.


Um ano mais tarde filmou “Subarashiki Nichiyobi”, também conhecido no exterior como “OneWonderful Sunday”, que numa tradução mais literal significa “Um domingo maravilhoso”, produzido por Sojiro Motoki, roteiro de Akira Kurosawa e Keinosuke Uegusa, direção do próprio Kurosawa e música a cargo novamente de Tadashi Hattori.


O filme tem nos papéis principais Chieko Nakakita, Numasaki Isao, Midori Ariyama e Ichiro Sugai, entre outros. A película é em branco e preto, tem cerca de 108 minutos e retratava um casal de noivos, Yuzo e sua namorada que passam a tarde de domingos juntos de férias com uns míseros trocados no bolso.


Mas apesar disso, eles conseguem desfrutar de muitas pequenas aventuras, especialmente porque a namorada Masako é muito otimista e acredita na crença nos sonhos é capaz de levantar o ânimo de seu namorado Yuzo, em seu desespero realista.


Neste sétimo filme, segundo alguns autores, Kurosawa mostra suas influências ocidentais como de Frank Capra. DW Grifith e FW Murnau. Também ganha o prêmio como Melhor Diretor e Melhor Roteiro no Mainichi Film Award de 1948.

Em 1947, a Toho Studio produz “Ginrei no Hate”, também conhecido por “Snow Trail”, dirigido por Senkichi Taniguchi, com roteiro de Akira Kurosawa e Senkichi Taniguchi, apesar de não ser creditado, e música a cargo de Akira Ifukube.


Apesar desse filme não ser dirigido por Kurosawa, mas sim por Taniguchi, é o primeiro filme da aproximação de um jovem ator chamado Toshiro Mifune, que mais tarde se tornaria um dos mais famosos atores do Japão e também um dos atores preferidos de Kurosawa. Este filme também conta com a participação de Takashi Shimura que se tornaria um colaborador de longo prazo de Kurosawa.


A história desse filme é centrada em três assaltantes de bancos, que fogem para as montanhas e chegam a uma pousada nos Alpes japoneses. Lá um dos assaltantes, Eijima, conhece uma mulher jovem e seu pai, e também um montanhista chamado Honda. Eles não percebem que estão lidando com bandidos procurados e são tratados amistosamente. Honda voluntariamente leva-os para as montanhas, quando Eijima entra em paranóia, colocando a vida de todos em perigo.


Pouco tempo depois em 1948, Kurosawa volta a dirigir o filme “Tenshi Yoidore”, também conhecido como “Drunken Angel” e no Brasil como “Anjo Embriagado”, produzido por Sojiro Motoki, com roteiro de Akira Kurosawa e Keinosuke Uegusa, com músicas a cargo de Ryoichi Hattori e Fumio Hayasaka.


No elenco deste filme, Toshiro Mifune, fazia sua estréia sob a batuta de Kurosawa, e que também contou a presença de Takashi Shimura, Reisaburo Yamamoto, Michiyo Kogure e Chieko Nakakita, nos papéis principais, entre outros.


O filme narra a história envolvendo um médico alcoólatra no pós-guerra no Japão, que cuida de um jovem ferido após um tiroteio com um sindicato rival. O médico também diagnostica o jovem como portador de tuberculose e tenta convencê-lo a se tratar em vez de cair na bebedeira na farra com as mulheres.


Os dois, o médico e o gangster passam a ter uma estranha e constrangedora amizade, até que um dia o ex-patrão do gangster é libertado da prisão e sai a busca dos antigos membros de sua gang para reunir seu grupo novamente, fazendo com que o jovem tuberculoso retorne a sua vida de crimes.


Com este filme, o próprio Kurosawa afirmava estar livre dos domínios da interferência do governo em seu trabalho. Era um filme que tinha a coragem de mostrar o cruel submundo do crime, a Yakuza, à sociedade japonesa pela primeira vez.


Nesse filme Kurosawa mostrava as prostitutas atendendo soldados americanos, os bandidos usando roupas ocidentalizadas, bem como seus penteados. Não foi permitido a ele mostrar o conjunto de favelas do mercado negro, mas cuidadosamente ele faz referência a ela, assim como satiriza o jazz, mas de tal forma subjetiva e impecavelmente forjada, que nem mesmo os burocratas censores da comissão não tiveram a capacidade de perceber essas violações.


Nesta mesma época, Kurosawa, juntamente com o produtor Sojiro Motoki e outros diretores amigos como Kajiro Yamamoto, Mikio Naruse e Senkichi Taniguchi fundam uma nova unidade de produção independente denominada de Art Film Association.


Para estrear essa nova empresa, Kurosawa dirigiu o filme “Shizukanaru Ketto”, também conhecido por “The Quiet Duel”, ou no Brasil como “Duelo Silencioso / A Luta Solitária”, com roteiro de Senkichi Taniguchi. O filme chegou aos cinemas japoneses em 13 de março de 1949.


Neste filme o ator Toshire Mufune interpretou o papel de um jovem médico idealista que trabalhava na clinica junto com seu pai, protagonizado por Takashi Shimura, num pequeno município decadente. Durante a guerra contrai sífilis a partir de um sangue de um paciente durante uma cirurgia. Começa a tratar-se secretamente e atormentado por sua consciência ele passa a rejeitar a sua noiva, mesmo com o coração partido, sem dar qualquer explicação e também para não contaminá-la.


Segundo alguns autores, Kurosawa com este filme tentava retirar o estigma de gangster do ator Toshiro Mifune. O filme foi sucesso de bilheteria, mas não de crítica que considerou como uma das realizações menores do diretor.


Pouco tempo depois, em 1949, Kurosawa volta a dirigir um filme noir processual policial chamado “Stray Dog”, que no Brasil ficou conhecido como “Cão Danado”, produzido por Sojiro Motoki, com roteiros de Akira Kurosawa e Ryuzo Kikushima, que segundo o próprio Kurosawa mencionou em várias entrevistas, foi inspirado nas obras de Georges Simenon.


Neste filme Toshiro Mifune interpretou o detetive Murakami que fica obstinado na procura de sua arma, que fora roubado por um pobre jovem, com a qual ele passa a usá-lo para matar e roubar. Kurosawa passa a explorar o humor japonês do pós-guerra e para isso conta com a colaboração de Ryuzo Kikushima, que mais tarde contribuiria em mais oito outros filmes do diretor.


Em 1973 o filme foi refeito como o título de “Nora Inu”, estrelado por Tetsuya Wataria como detetive Murakami e Ashida Shinsuke como Sato e o local alterado de Tóquio para Okinawa. Em 1950, o espetáculo foi premiado com Mainichi Fil Concours por Melhor Ator para Tadashi Shimura, Melhor Trilha Sonora de Filmes para Fulio Hayasaka, Melhor Fotografia para Asakazu Naki e Melhor Direção de Arte para So Matsuyama.


Um ano depois, Kurosawa retornava dirigindo “Sukyandaru”, ou “Shubun” e/ou “Scandal”, produzido por Takashi Koide, com roteiros de Kurosawa e Ryuzo Kikushima, com músicas de Fumio Hayasaka, que chegou aos cinemas em 30 de abril de 1950.


Toshiro Mifune interpretava Ichiro Aoye, um artista, que conhece uma jovem cantora clássica chamada Miyako Saijo, protagonizada por Shirley Yamaguchi, enquanto trabalhava em suas pinturas nas montanhas. Depois ele oferece uma carona ao descobrir que estão hospedados no mesmo local.


No meio do caminho eles são reconhecidos por um paparazzi de um tablóide sensacionalista e como a cantora recusa a conceder uma entrevista aos fotógrafos, eles tramam uma vingança montando uma imagem do casal tomando café da manhã. Indignada Aoye pretende processar a revista.


O filme é uma mistura de drama jurídico de tribunal e enfoca o problema social sobre a liberdade de expressão e as responsabilidades pessoais. O espetáculo foi descrito pelo próprio Kurosawa como um filme de protesto à imprensa japonesa da época, que normalmente costumava provocar confusões entre liberdade e licença. 

Depois de terminar esse filme, Kurosawa foi abordado pela Daiei Studios, que solicitaram para ele dirigir outro espetáculo e desta forma ele escolheu compartilhar o roteiro com um jovem aspirante a roteirista chamado Shinobu Hashimoto, baseado num conto de Ryunosuke Akutagawa.


Kurosawa também trabalhou neste filme em colaboração com o cineasta Kazuo Miyagawa e a película retratava o estupro de uma mulher e o assassinato de seu marido samurai, através dos relatos amplamente divergentes de quatro testemunhas. O filme recebeu o nome de “Rashomon” e a história se desenrolava mediante flashback com as quatro testemunhas.


O elenco principal contou com Toshiro Mifune como o bandido, Machiko Kyo como a mulher do samurai estuprada, Masayuki Mori como o samurai assassinado e o lenhador interpretado por Takashi Shimura, entre outros. O filme estreou no Japão em agosto de 1950 através da Daiei e nos Estados Unidos em 26 de dezembro de 1951, através da RKO Radio Pictures.


As suas filmagens tiveram início em 7 de julho de 1950 na floresta de Nara. Uma semana depois as filmagem ficaram prejudicas por um incêndio no estúdio. Apesar de muitos contratempos o filme foi finalmente terminado e trouxe um retorno moderado para a Daiei.


Apesar do filme não render grandes frutos ao estúdio, mas para Kurosawa rendeu grandes triunfos, pois com este espetáculo, Kurosawa chegava finalmente ao público ocidental e ganhando um Leão de Ouro no Festival de Veneza e também um prêmio honorário da Academia no 24th Academy Awards, em 1952.


Este filme é considerado por diversos autores como um dos filmes mais importantes do Japão, pois foi ela que abriu as portas para outros artistas do cinema japonês como Kenji Mizoguchi, Nagisa Oshima, Shohei Imamura, Takeshi Kitano e Takashi Miike, entre outros.


Em 1951, Kurosawa voltou a dirigir “Hakuchi”, também conhecido como “The Idiot”, produzido por Takashi Koide, com roteiro de Eijiro Hisaita e Akira Kurosawa baseado na obra de mesmo nome do escritor russo Fiódor Dostoievski. Este foi o segundo filme que Kurosawa fez para a Shochiku Studio.


O cineasta mudou a localização da história da Rússia para Hokkaido, no Japão, mas em outras partes continuou fiel ao original, que mais tarde foi apontado pelos críticos como a decisão mais prejudicial ao filme. O filme teve um sucesso moderado de bilheteria, e o pouco que conseguiu foi graças a popularidade da atriz Setsuko Hara. Atualmente este filme é considerado como uma das obras primas do cineasta.


O elenco contou Toshiro Mufine como Akama Denkichi; Masayuki Mori como Kinji Kameda, a idiota; Setsuko Hara como Nasu Taeko e Yoshiko Kuga como Ayako, entre outros. Dostoievski era o autor preferido de Kurosawa e lia seus livros desde pequeno e segundo ele, o autor era o que mais honestamente falava sobre a existência humana, palavras do próprio Kurosawa.


A projeção internacional de Kurosawa fez com ele retornasse a filmar pela Toho. Para começar iniciou com o projeto de “Ikiru”, produzido por Sojiro Motoki, com roteiro de Shinobu Hashimoto, Hideo Oguni e Akira Kurosawa.


O espetáculo contou no elenco com Takashi Shimura, Shinichi Himori, Haruo Tanaka, Minour Chiaki e Hidari Bokuzen, entre outros e desta vez sem a presença de Toshiro Mifune, que estava envolvido em outro projeto. O filme chegou aos cinemas em 9 de outubro de 1952.


A película retratava um homem de meia idade que trabalhou na mesma ocupação burocrática monótona durante trinta anos de sua vida. Sua esposa já estava morta e seu filho e nora morava com ele e ao que parece só se interessavam pela pensão do pai e pela herança que ele deixaria.


Ao ficar sabendo de um câncer no estômago e poder viver somente talvez mais um ano, Watanabe o pai, resolve contar a seu filho sobre a doença, mas muda de idéia e resolve não contar, pois seu filho não ligava mesmo para ele. Dessa forma, ele tenta encontrar uma fuga em prazeres da vida noturna em Tóquio, mas logo descobre que essa não é a solução.


Um certo dia, casualmente encontra uma de suas antigas subordinadas, que faz a vida dele tomar um rumo totalmente diferente cheia de amor e entusiasmo. Ela lhe conta que agora trabalha fazendo brinquedos, o que a faz sentir novamente uma criança e inspirado nela, Watanabe passa a dedicar o restante de seus dias na busca de novos valores.


Em 2008, esse filme foi classificado em 459° lugar pela revista Empire, na lista do 500 Melhores Filmes de Todos os Tempos e em 2010, ficou em 44° lugar, também pela revista Empire na lista do 100 Melhores Filmes do Cinema Mundial. Ainda ganhou o Lobo de Ouro em 1953, no Festival de Cinema de Bucarest e indicado no 4 Berlin International Film Festival para o Urso de Ouro.

Após o término de "Ikiru", Kurosawa foi para uma pousada por quarenta e cinco dias para criar o roteiro de seu novo filme. Originalmente Kurosawa pensou em dirigir um filme que falava sobre a vida de um samurai, mas durante suas pesquisas descobriu uma linda história sobre alguns samurais defendendo os agricultores.


Segundo o ator Toshiro Mifune, o filme inicialmente ia ser chamado de “Six Samurai”, mas com o decorrer do desenvolvimento do roteiro, os roteiristas Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni, perceberam que os “seis samurais” pareciam muito sóbrios e que eles precisavam de mais um personagem diferente.


O filme contava a história de um bando de saqueadores que se aproximam de uma aldeia na montanha. O chefe dos bandidos reconhece terem saqueado essa aldeia anteriormente e acha melhor poupar até a colheita em alguns meses, até que ela fique no ponto de ser saqueada novamente.


Um dos aldeões escuta a conversa e a notícia se espalha entre o povo da aldeia, que ficam divididos em renunciar da colheita ou se deve lutar para manter a colheita. Após muita discussão eles decidem consultar o ancião da aldeia, que sugere que eles devem contratar um samurai para defendê-los.


Mas, muitos aldeões ficam preocupados, pois um samurai custaria muito caro e outros acreditavam que ele podia cobiçar as moças jovens da aldeia, mas logo percebem que não tem outra escolha. Como eles não tinham nada a oferecer, o ancião sugere que eles ofereçam ao samurai uma farta alimentação, basta para isso encontrar um samurai com fome.


Os homens vão para a cidade, mas inicialmente não são bem recebidos pelos samurais. Quando tudo parece estar perdido, eles assistem um samurai resgatando um jovem refém de um ladrão. Os aldeões pedem a este samurai para ajudar a defender sua aldeia dos saqueadores e para surpresa deles, o samurai aceita e também convoca outros samurais para ajudá-lo nessa missão.


O Elenco principal do filme contou como Takashi Shimura, Isao Kimura, Yoshio Inaba, Daisuke Kato, Minoru Chiaki, Seiji Miyaguchi, Toshiro Mifune, Bokuzen Hidari, Kamatari Fujiwara, entre outros. Basicamente os personagens são compostos pelos samurais, os aldeões e os bandidos.


Os Sete Samurais” é descrito como um dos mais influentes filmes de todos os tempos e faz parte de um seleto grupo de poucos filmes a se tornar conhecido no Ocidente por um longo período de tempo e sempre colocado entre os dez maiores filmes de todos os tempos.


O filme também inspirou a criação do filme norte-americano em 1960 chamado “Magnificent Seven” e suas continuações, uma recriação do diretor John Sturges, adaptando as circunstâncias e os personagens para o Velho Oeste. Também outros filmes emprestaram a premissa básica do filme de Kurosawa, como em “Sholay” (1975) e “Battle Beyond the Stars” (1980), entre outros.


Os Sete Samurais ganhou o Leão de Prata para Akira Kurosawa no Festival de Cinema de Veneza em 1954; o Mainichi Film Award para Melhor Ator Codjuvante para Seiji Miyaguchi e Jussi Awards em 1959, como Melhor Diretor de Negócios Estrangeiros para Akira Kurosawa e Melhor Ator Estrangeiro para Takashi Shimura, além de diversas indicações.


Pouco tempo depois, Kurosawa começa a dirigir “Ikinono no Kiroku”, também conhecido como “I Live in Fear”, conhecido no Brasil como “Anatomia do Medo”, roteirizado por Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto, Fumio Hayasaka e Hideo Oguni, com a parte musical sob a responsabilidade de Masaru Sato e Fumio Hayasaka, que chega aos cinemas em 22 de novembro de 1955.


O filme “I Live in Fear” tem como inspiração a atmosfera de ansiedade que tomou conta da população japonesa, quando os acontecimentos de 1954, envolvendo os testes nucleares no Pacífico começaram a causar chuvas radiativas no Japão, colocando até um barco japonês de pesca em resultados desastrosos.


O filme contou no elenco com Toshiro Mifune, Takashi Shimura, Jiro Nakajima, Eiko Miyoshi e Nakajima Aoyama, entre outros, e narrava a história de um velho empresário que fica obcecado com a idéia de que haverá um extermínio nuclear no Japão. A família conclui que ele já não é capaz de gerir os negócios e afasta-o do comando da empresa, através de um conselho da Corte Nacional.


Mas, ele continua com medo e tenta convencer a todos a sair do Japão e vir morar no Brasil. Nesta ocasião ele mostra as vicissitudes de uma família numerosa, além de um pai obsessivo. Essa obsessão por uma provável guerra nuclear provoca no filme momentos de alternância entre gestos duríssimos e em outros de plena ternura.


Este foi o último filme que o compositor musical Fumio Hayasaka trabalhou antes de morrer de tuberculose neste mesmo ano. Ele havia sido amigo intimo de Kurosawa desde 1948 e colaborado em diversos filmes do cineasta.


Para o próximo projeto em 1957, Kurosawa resolveu transpor para a tela o clássico “Macbeth” de William Shakespeare para o Japão feudal no filme “Kumonosu-jo”, também conhecido no ocidente como “Throne of Bood” e no Brasil por “Trono Manchado de Sangue”, apesar de sua tradução literal signifique algo como “Castelo de teia de aranha”.


Dirigido por Akira Kurosawa, com roteiros de Shinobu Hashimoto, Ryuzo Kikushima, Akira Kurosawa, Hideo Oguni, este filme representou uma transposição ambiciosa de um trabalho inglês para um contexto asiático. Dizem que Kurosawa instruiu a atriz Isuzu Yamada, que interpretou a Lady Macbeth, a considerar o filme como se ela fosse uma versão cinematográfica japonesa e não de um clássico literário europeu.


Muito apropriadamente a atuação dos atores, em especial de Yamada, foram inspiradas fortemente nas técnicas estilizadas do teatro tradicional japonês Noh. Kurosawa seguiu os mesmos acontecimentos de Macbeth, tal como acontece na obra original, onde o personagem do principal companheiro é morto quando é percebido como uma ameaça ao trono, e só voltar como um fantasma.


O filme tornou-se uma das mais célebres adaptações da obra de Shakespeare e também recebeu uma grande recepção por parte dos críticos literários, apesar de muitas liberdades com a obra original. O crítico literário norte-americano Harold Bloom considerou como o filme mais bem sucedido da versão de Macbeth, assim como é conhecido por ser a favorita do poeta T.S. Eliot.


Talvez empolgado com o sucesso de “Throne of Blood”, Kurosawa passou a dirigir o filme “Donkozo”, ou “The Lower Depths”, baseado na obra de mesmo nome de Maxim Gorky. Para isso contou com o roteiro dele próprio, juntamente como Hideo Oguni, adaptando outra obra clássica do teatro europeu.


Mas ao contrário do filme anterior, e apesar de manter-se fiel a original, a adaptação do cenário russo para um totalmente japonês, ao final do período Edo, não foi artisticamente bem-sucedida, como compreendem diversos autores. O filme recebeu uma resposta mista, mas alguns críticos a classificam entre as mais belas obras do cineasta.


No elenco estão presentes Toshiro Mifune, Isuzu Yamada, Bokuzen Hidari, Kyoko Kagawa e Ganjiro Nakamura, entre outros e a história se passa num cortiço do período Edo, com um homem idoso e sua amarga esposa, e vivendo de alugar quarto e camas para os pobres. Seus inquilinos são jogadores, prostitutas, pequenos ladrões, vagabundos e bêbados, todos lutando para sobreviver.


O filme de Kurosawa, ao contrário da versão de Jean Renoir sobre o mesmo tema, segue mais fiel a obra de Gorky, fazendo deste filme um espetáculo mais sombrio e forçando a eliminação do final feliz de Renoir. Além disso, Kurosawa não permite que o filme caia no desespero, na medida em que a vitalidade pura do alívio cômico chegue a ofuscar o enredo principal, segundo o ponto de vista de diversos autores.

Ao final deste filme, Kurosawa via com alegria a mudança de formato para o novo widescreen que ganhava cada vez mais popularidade no Japão e no resto do mundo. O resultado disso veio com o filme “Kakushi toride no Akunin San” ou “The Hidden Fortress”, no Brasil conhecida como “A Fortaleza Escondida”, com roteiro de Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto, Ryuzo Kikushima e Hideo Oguni.


O filme é uma mistura de aventura, ação, comédia e drama que tem início com dois camponeses, Tahei interpretado por Minoru Chiaki e Matashichi protagonizado por Kamatari Fujiwara, que escapam de uma batalha e ao tentar retornarem para suas casas, eles cruzam com o General Rokurota Makabe, interpretado por Mifune Toshiro e assim começam a viajar com ele.


O general está tentando transportar a princesa da derrotada família Daimyo, também conhecida como Princesa Yuki, interpretada pela atriz Misa Uehara, que traz em segredo o que restou de sua riqueza. Os camponeses tentam impedir a missão do general e muitas vezes procuram fugir com o ouro.


Mais tarde encontram a filha de um fazendeiro e assim as cinco pessoas tentam desesperadamente passar através do território inimigo, transportando o precioso tesouro da princesa e na esperança de conseguir reconstruir-se militarmente para assim um dia retomar novamente as terras e reconstruir o seu reinado.


O filme ganhou um Urso de Prata de Melhor Diretor para Akira Kurosawa no Festival Internacional de Cinema de Berlim e posteriormente o diretor George Lucas reconheceu que sofreu uma grande influência de Kurosawa neste filme em “Star Wars Episode IV: A New Hope” especialmente na técnica de contar a história sob o ponto de vista dos personagens mais humildes do filme.


Desde que Kurosawa filmou “Rashomon” as suas produções se tornaram cada mais vez mais importantes no cenário internacional, mas isso também afetou bastante os orçamentos das produções de Kurosawa e desta forma a Toho, preocupado com isso sugeriu ajudar a financiar suas obras, tornando assim as perdas potenciais do estúdio menor, e desta forma em abril de 1959 foi criada a Kurosawa Production Company, tendo a Toho como acionista majoritária, o que permitia maior liberdade artística.


Yatsu Warui Nemuru Yoky Hodo” ou “The Bad Sleep Well”, também conhecido no Brasil como “Homem Mal Dorme Bem” se tornou o primeiro filme a ser produzida por nessa nova companhia independente. O filme tem como base um roteiro de um sobrinho de Kurosawa chamado Mike Inoue, produzido por Akira Kurosawa e Tomoyuki Tanaka, com músicas de Masaru Sato.


O elenco do filme é composto por Toshiro Mifune, Masayuki Mori, Kyoko Kagawa, Tatsuya Mihashi e Takashi Shimura, entre outros e retrata um drama de vingança de um jovem rapaz que sobe na hierarquia de uma sociedade corrupta japonesa com a intenção de expor os homens responsáveis pela morte de seu pai.


O filme estreou em setembro de 1960 e teve pouca reação da crítica e também um modesto sucesso financeiro. A película também foi criticada pelo próprio Kurosawa por empregar um herói convencional para combater um mal social, que não pode ser resolvida somente através de ações individuais, mesmo sendo corajoso e astuto. Apesar disso o filme chegou a ser indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1961.


Pouco tempo depois, Kurosawa voltava a dirigir a sua segunda produção cinematográfica pela recente Kurosawa Production Company chamado “Yojimbo”, produzido por Ryuzo Kikushima, Akira Kurosawa e Tomoyuki Tanaka, com roteiros do próprio Kurosawa com Ryuzo Kikushima e a parte musical aos cuidados de Masaru Sato.


Neste filme, Kurosawa voltou a mostrar o desamparo dos habitantes de uma cidade que necessitavam de proteção, que são características remanescentes de seu outro filme "Os Sete Samurais", produzida em 1954, e também mostra um olhar inspirado nos filmes ocidentais, em especial as do diretor John Ford, com personagens taciturnos e solitários.


Yojimbo narra a história de um samurai sem mestre, interpretado por Toshiro Mifune, que chega a uma pequena cidade, onde os chefões do crime brigam entre si para ganhar dinheiro no jogo. O samurai convence a um dos chefões a contratá-lo para protegê-lo.


Ao manobrar cuidadosamente o uso de sua espada, ele acaba trazendo a paz, mas somente através do incentivo de ambos os lados para limpar um dos outros em batalhas sangrentas. O título do filme “Yojimbo”, numa tradução literal significa algo como "guarda-costas".


Além de Toshiro Mifune, participam Tatsuya Nakadai, Yoko Tsukasa, Isuzu Yamada, Daisuke Kato e Takashi Shimura, entre outros. O filme foi distribuído pela Toho Company Ltd. e chegou aos cinemas em 25 de abril de 1961.


O filme, assim como “Os Sete Samurais”, também recebeu uma versão ocidental adaptada para o Velho Oeste sob o título de “A Fistful of Dollars”, um western spaghetti, dirigido por Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood. Também entre outros filmes, inspirou “The Warrior and the Sorcerres” de 1984, estrelado por David Carradine e “Last Man Standing” de 1996, sob direção de Walter Hill e protagonizado por Bruce Willis.


Este filme obteve uma boa recepção e também passou a influenciar o gênero samurai no Japão, inaugurando uma nova era de filmes de samurais violentos. Recebeu uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Figurino de 1962 e também foi indicado ao Leão de Ouro e ganhou a Taça Volpi de Melhor Ator para Toshiro Mifune no Festival de Veneza de 1961.

Devido ao sucesso do filme “Yojimbo”, Kurosawa passou a ser pressionado pela Toho para criar a sua seqüência e assim nasceu “Sanjuro”, com Toshiro Mifune reprisando o papel do samurai errante ronin, tendo a mesma combinação de ação e humor, mas tendo um tom mais leve que o anterior. O filme teve o roteiro de Kurosawa juntamente como Ryuzo Kikushima e foi lançado no Japão em janeiro de 1962 e em maio de 1963, nos Estados Unidos.


A história começa com nove jovens samurais que estão preocupados com a corrupção na liderança de seu clã e desta forma resolvem pedir ajuda. Os nove jovens se reúnem secretamente num templo e discutem o problema, quando acidentalmente acordam o ronin que estava descansando tranqüilamente no quarto ao lado. O ronin ouve os planos dos jovens, vai até os jovens e explica a estupidez e a ingenuidade de suas conclusões e resolve ajudá-los.


O elenco conta com Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Keiju Kobayashi e Yuzo Kayama, entre outros. De acordo com o documentário “Akira Kurosawa: It is Wonderful to Create”, inicialmente o cineasta pretendia filmar uma adaptação direta da história “Peaceful Days”, mas depois do sucesso de “Yojimbo” o estúdio resolveu ressuscitar o seu popular anti-herói.


A película fez sucesso rapidamente ganhando críticas positivas e também um bom retorno de bilheteria. Aproveitando o sucesso do filme, Kurosawa fez com a Toho comprasse os direitos de filmagens de “King´s Ransom”, um romance que falava sobre um seqüestro do escritor e roteirista norte-americano Evan Hunter, que escrevera sob o pseudônimo de Ed McBain, a série de livros de crime “Precinct 87”.


Assim nasceu outro filme sob a direção de Kurosawa denominado originalmente como “Tengoku a Jigoku”, ou “High and Low”, conhecido no Brasil como “Céu e Inferno”, com roteiros de Kurosawa, Eijiro Hisaita, Ryuzo Kikushima e Hideo Oguni.


O filme foi estrelado por Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Kyoko Kagawa, Tatsuya Mihashi e Isao Kimura, entre outros, e o filme narrava sobre um rico executivo chamado Kingo Gondo, diretor de uma fábrica de sapatos, que tem o seu filho seqüestrado e o mesmo passa exigir uma quantia exorbitante como resgate, mas ao efetuar o pagamento combinado tem uma grande surpresa.


O filme teve suas locações na cidade de Tengoku To Jogoku, no Japão, é recheada de suspense e drama e recebeu uma indicação ao Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1963 e também outra indicação ao prêmio Samuel Goldwyn no Golden Globe de 1964.


Apesar de não ganhar nenhum dos prêmios indicados, o filme quebrou um recorde de bilheteria, se tornando uma das maiores do cinema japonês daquele ano e também ganhou críticas de elogios. Mas, ironicamente o espetáculo também acabou sendo acusado de provocar uma onda de seqüestros que começaram a ocorrer no Japão naquela época.


Rapidamente Kurosawa mergulhou em seu novo filme denominado “Akahige”, ou “Red Beard”, também conhecido no Brasil pelo título de “O Barba Ruiva”, que foi baseado numa coletânea de contos do escritor Shugoro Yamamoto e incorporando elementos do romance de Dostoievski “The Insulted and the Injured”.


O filme foi produzido por Ryuzo Kikushima e Tomoyuki Tanaka com roteiros de Kurosawa, Masato Ide, Ryuzo Kikushima e Hideo Oguni e foi lançada no Japão em 3 de abril de 1965 e nos Estados Unidos em 19 de janeiro de 1966. O elenco contou com Toshiro Mifune, Yuzo Kayama, Kyoko Kagawa e Terumi Niki, nos papéis principais, entre outros.


É um filme de época, em meados do século XIX numa clínica de pobres, onde um vaidoso e materialista médico estrangeiro chamado Yasumoto é forçado a fazer estágio na clínica sob a tutela do Doutor Nide, conhecido por “Red Beard”, interpretado por Toshiro Mifune.


Embora no inicio resista aos ensinamentos do Doutor Nide, mas Yasumoto vai com o tempo admirando a sabedoria e a coragem e também perceber que os pacientes da clínica, embora inicialmente tratados com desprezo, logo passam a serem dignos de compaixão e dignidade.


O jovem que interpretou o personagem Yasumoto, o ator Yuzo Kayama, também era um popular cantor da época de muito sucesso, o que praticamente garantiu a bilheteria do filme. Também foi o primeiro filme de Kurosawa a fazer uso de 4 faixas estéreo na trilha sonora e fotografia, o que ocasionou uma demora de dois anos.


Alguns autores também contam que o ator Toshiro Mifune teve de deixar e manter a barba crescida durante toda a longa produção do filme, o que o incapacitou de atuar em outros projetos. Isso resultou num desgaste financeiro o que provavelmente foi uma das causas da separação entre o ator e Kurosawa.


Também Toshiro Mifune foi acusado por um dos roteiristas de interpretar incorretamente o personagem "Red Beard", colocando em dúvida as habilidades de Mifune, que pediu para Kurosawa nunca mais chamá-lo para um filme seu, de acordo com comentários de Teruyo Nogami e Shugoro Yamamoto.


Este foi o último filme em preto e branco de Akira Kurosawa e também o único a mostrar uma cena de nudez, numa cena onde os médicos suturam uma feriada numa mulher jovem que ainda estava semiconsciente.


Fora do Japão, o filme foi bem recebido pelos críticos com certa ressalva e opiniões divididas. A maioria da crítica admitia o mérito técnico, mas insistiam na falta de complexidade e poder de narrativa real, e outros ainda alegam que neste filme, Kurosawa recuava em seu compromisso político como artista e mudança social.


O próprio Kurosawa reconheceu na época do lançamento do filme as suas falhas e anunciou que aquele ciclo de filmes havia acabado e que no futuro os métodos de produção seriam diferentes. Este filme também marcou um ponto intermediação das suas produções, de maneira cronológica na vida do cineasta, ou seja, a partir de então suas obras passariam a ter um novo caráter.


Durante seus últimos 29 anos na indústria cinematográfica japonesa, Kurosawa havia dirigido 23 filmes. Também por razões nunca devidamente explicadas, este seria o último filme com a participação de Toshiro Mifune. Nesta época também terminava seu contrato de exclusividade com a Toho e percebendo a mudança da indústria cinematográfica japonesa, e tendo recebido diversos convites para trabalhar no exterior, Kurosawa pela primeira vez pensou nessa hipótese.


Após o “Red Beard”, Kurosawa levou quase cinco anos preparando o seu novo filme “Dodesukaden”, que foi o seu primeiro filme a cores. O roteiro foi inteiramente escrita por Kurosawa e totalmente diferente de tudo que ele já havia feito.  Apesar de ser muito criticado no Japão e ganhar uma indicação ao Oscar para Melhor Filme Estrangeiro, também representou a primeira falha financeira de Kurosawa e num dos piores momentos de sua vida.

Kurosawa começou a encontrar problemas como ele nunca havia enfrentado antes para conseguir financiamento para o filme, assim como surgiram boatos sobre sua saúde mental em deterioração, que acabaram por piorar ainda mais a situação. O filme só conseguiu ser realizado com a cooperação e co-produção de três outros diretores japoneses Keisuke Kinoshita, Masaki  Kobayashi e Kon Ichikawa.


O filme contou com elenco totalmente diferente das anteriores com Kin Sugai e Yoshitaka Zushi, entre outros, e sem a presença de Toshiro Mifune, o astro preferido de Kurosawa. O espetáculo focalizava a vida de uma variedade de personagens que por acaso viviam no lixão.


O título do filme se refere a uma onomatopéia japonesa do som feito por um bonde ou trem em movimento. “Dodesukaden” foi lançado em 31 de outubro de 1970, distribuído pela Toho e posteriormente foi levemente readaptada sob o título de “Street Trash” em 1987, pelo roteirista e produtor Roy Frumkes.


A crítica não gostou do filme e por uma junção de diversos problemas profissionais, pessoais acabaram por levar Kurosawa a uma profunda depressão, o que o levou a tentar se suicidar em 1971. Kurosawa tentou cortar-se com uma navalha por 30 vezes, mas sobreviveu as tentativas de suicídio e passou um tempo em tratamento de sua depressão e voltaria a filmar somente algum tempo depois.


Em 1973, o estúdio Mosfilm, na época pertencente a ex-União Soviética abordou Kurosawa se ele estaria interessado em adaptar o livro autobiográfico do russo Vladimir Arseniev chamado Dersu Uzala. Entusiasmado, Kurosawa, agora com 63 anos de idade, foi para a União Soviética, com quatro de seus assessores mais próximos e começou a trabalhar no filme.


O filme é quase que inteiramente filmado ao ar livre, em condições climáticas muito complicadas, em alguns locais da Sibéria e como a maioria dos trabalhos de Kurosawa, ele procurou a cada quadro compor cuidadosamente para formar desta maneira um quadro dramático.


O filme explorava os temas das florestas nativas, homens que estavam totalmente integrados no seu ambiente e também sobre o envolvimento, crescimento de respeito e amizade profunda entre duas pessoas de origens completamente diferentes. Falava também sobre a dificuldade de se lidar com a perda da força e habilidade em decorrência da velhice.


Dersu Uzala foi dirigido por Kurosawa, que também escreveu o roteiro juntamente com Yuri Nagibin, produzido por Yoichi Matsue e Nikolai Sizov e estrelado pelos atores russos Maxim Munzuk como Dersu Uzala e Yuri Solomin como Vladimir Arseniev.


O filme ainda rendeu cerca de 20,4 milhões de bilhetes na União Soviética e um faturamento de aproximadamente US$ 1,2 milhões nos Estados Unidos e Canadá. Fez sua estréia na União Soviética em julho de 1975, em agosto no Japão e nos Estados Unidos em 5 de outubro de 1976.


O filme ainda ganhou o Grand Prix no Festival Cinema de Moscou e um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1975 e foi a primeira película de Kurosawa feita totalmente fora do Japão. O filme recebeu uma fria recepção pelos críticos japoneses, mas foi muito bem recebido pelos críticos ocidentais.


Kurosawa também recebeu várias propostas para projetos em televisão, mas ele nunca desejou fazer nada fora do mundo cinematográfico, assim mesmo aceitou o convite para aparecer num anúncio onde ele bebe um uísque da marca Suntory que foi ao ar em 1976.


Mesmo após Dersu Uzala, Kurosawa ainda não se achava seguro e temia não conseguir fazer um outro filme, mas continuou a trabalhar em vários projetos, escrevendo roteiros e criação de ilustrações detalhadas, com a intenção de deixar um registro visual de seus planos, caso ele nunca mais conseguisse fazer outro filme.


Em 1977, o diretor norte-americano George Lucas lançou com sucesso o filme “Star War” e disse na ocasião que foi grandemente influenciado pelo filme “Hidden Fortress” de Kurosawa, entre outras obras. Outros diretores de Hollywood passaram a reverenciar Kurosawa e ficaram chocados ao descobrir que o cineasta japonês não estava conseguindo levantar financiamento para um novo filme.


Kurosawa conheceu George Lucas em São Francisco em julho de 1978 e passaram a discutir um financiamento mais viável. Lucas utilizou toda sua influência junto a 20th Century Fox e desta forma Lucas e Francis Ford Coppola entraram como produtores executivos, na versão internacional. Assim, pouco tempo depois Kurosawa já com seu bom astral recuperado, começou a rodar o filme “Kagemusha”.


No Brasil o filme foi lançado com o título de “Kagemusha: A Sombra do Samurai”, escrito por Kurosawa e Masato Ito e contou no elenco com Tatsuya Nakadai, Tsutomu Yamazaki, Kenichi Hagiwara e Jipanchi Nezu, entre outros. O espetáculo chegou aos cinemas do Japão em 26 de abril de 1980 e nos Estados Unidos em 6 de outubro deste mesmo ano.


O filme tem início quando um poderoso guerreiro chamado Shingen, considerado como uma lenda, é ferido numa batalha e se encontra a beira da morte. Nesse instante, Shingen ordena ao seu clã para que eles encontrem um sósia para servir como seu substituto e manter a sua morte em segredo, para que os inimigos não se sintam fortificados e assim não serem atacados.


Nessa procura eles acabam encontrando um bandido sem eira nem beira, e eles o transformam a imagem de seu líder para comandar uma tropa de milhares de guerreiros. O filme além recuperar o prestígio internacional de Kurosawa também recebeu diversas indicações a importantes prêmios e ganhou dois prêmios BAFTA, uma como Melhor Figurino para Seiichiro Momosawa e Melhor Direção para Akira Kurosawa.


Também faturou a Palma de Ouro, empatando com “All That Jazz” no Festival de Cannes, na França, além de um Cesar Awards como Melhor Filme Estrangeiro e dois prêmios David di Donatello Awards na Itália, uma como Melhor Diretor de Filme Estrangeiro para Akira Kurosawa e uma para Melhor Produtor de Filme Estrangeiro para Coppola e George Lucas.

O sucesso de “Kagemusha” entusiasmou Kurosawa, que ao terminar o filme começou a trabalhar em seu novo projeto, o filme “Ran”, mas em janeiro de 1985, ele teve de interromper a produção, pois sua esposa Yoko havia adoecido gravemente. Pouco tempo depois em 1 de fevereiro deste mesmo ano ela veio a falecer. Pouco tempo depois retomou novamente e terminou o filme que estreou no Festival de Cinema de Tóquio no dia 31 de maio.


O filme teve um sucesso financeiro moderado no Japão, mas no exterior representou um sucesso enorme, obrigando Kurosawa a viajar para a Europa e América, para as estréias em setembro e outubro. "Ran" ganhou vários prêmios, mas não foi honrado com sua representação na Academia de Hollywood para uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O mundo do cinema ficou chocado com esta atitude japonesa.


Mas, Kurosawa logo saiu na defesa dos japoneses e atribuiu o mal-entendido as regras complicadas da Academia, pois ninguém tinha certeza de que a qualificação do filme seria japonesa ou francesa, já que o filme foi produzido numa parceria entre eles.


No entanto, muitos qualificaram o acontecimento como um flagrante desprezo de seus próprios conterrâneos ao cineasta. Devido a esse fato, o diretor Sidney Lumet acabou liderando uma campanha para recolocar o filme na indicação ao Oscar e no final acabou recebeu uma como Melhor Figurino para Emi Wada.


O filme é uma parceria entre Japão e França e contou no elenco com Tatsuya Nakadai, Akira Terão, Jimpachi Nezu, Daisuke Ryu, Mieko Harada, entre outros e a história do espetáculo remonta o século XVI, num poderoso clã dos Ichimonjis que decide dividir ainda em vida seus bens entre seus três filhos, Taro Takatora, Jiro Masatora e Saburu Naotora.


Após o termino de “Ran”, o cineasta escolheu um tema muito diferente de qualquer outra que ele já tinha filmado antes. Apesar de alguns de seus filmes anteriores haver incluído algumas seqüências de breves sonhos, Kurosawa não havia feito nenhum filme inteiramente baseado em seus próprios sonhos.


Pela primeira vez em mais de quarenta anos no meio cinematográfico, Kurosawa começou a trabalhar num projeto profundamente pessoal e desta forma escreveu o roteiro sozinho. O orçamento estimado era menor do que os filmes anteriores e os estúdios japoneses ainda estavam dispostos a apoiar o projeto.


Kurosawa tornou-se um grande amigo de Steven Spielberg, que convenceu a Warner Bros a comprar os direitos internacionais do projeto de Kurosawa. Isso também tornou mais fácil para seu filho, Hisao Kurosawa entrar como co-produtor e prestes a ser o chefe da Kurosawa Productions, bem como negociar um empréstimo no Japão para cobrir os custos de produção do filme.


Assim nasceu “Yume” ou “Dreams”, um realismo mágico baseado mais em imagens do propriamente em diálogos. O espetáculo é composto de vários sonhos divididos em oito segmentos separados. O filme teve sua estréia no dia 11 de maio de 1990, distribuído pela Warner Bros.


Foi produzido por Allan H. Liebert, Hisao Kurosawa, Mike Y. Inoue, Seikichi Izumi e Steven Spielberg e no elenco contou com Akira Terao, Mitsunori Isaki, Chishu Ryu, Mieko Harada e a participação especial de Martin Scorsese interpretando Vincent Van Gogh. O filme fez sua estréia no Festival de Cannes, em maio de 1990 e teve uma recepção apenas de cortesia, semelhante ao que aconteceria no resto do mundo.


Logo depois, Kurosawa procurou contar uma história mais convencional em “Hachigatsu no Rapusodi” ou “Rhapsody in August”, produzido pelo seu filho Hisao Kurosawa, com roteiro do próprio Kurosawa. O elenco foi composto por Sachiko Murase, Higashi Igawa, Narumi Kayashima, Tomoko Otakara e ainda contou com a participação do astro americano Richard Gere como Clark, um sobrinho da senhora Kane.


O espetáculo narra um conto de três gerações e suas respostas ao bombardeio atômico no Japão. O primeiro conto narra a história começando com uma senhora muito idosa chamada Kane, cujo marido foi morto no bombardeio de Nagasaki. No segundo com os dois filhos da senhora Kane e seus cônjuges, que cresceram no Japão pós-guerra e finalmente o terceiro dos quatro netos que já nasceram após o milagre econômico japonês e que fornecem a maior parte do diálogo do filme.


Este foi o primeiro filme em que Kurosawa produziu inteiramente no Japão desde “Dodeskaden” a mais de vinte anos atrás. O filme foi adaptado de um romance de Kiyoko Murata, mas as referências ao bombardeio em Nagasaki vieram do próprio cineasta e não do livro. Este também foi o único filme em que o cineasta incluiu uma estrela do cinema americano, Richard Gere, num dos papéis principais.


O filme teve sua estréia no dia 25 de maio de 1991 e recebeu uma reação negativa em grande parte da crítica especializada, especialmente nos Estados Unidos, onde o diretor foi acusado de promulgar ingenuamente sentimentos antiamericanos.


Mas, Kurosawa não perdeu tempo com essa questão e partiu logo para o seu próximo projeto, “Madadayo”, que numa tradução literal significa algo como “ainda não”. O filme é baseado na vida de um acadêmico e escritor japonês, Hyakken Uchida, falecido em 1971. O roteiro foi escrito por Kurosawa, Ishiro Honda que não é creditado na película.


O elenco foi constituído por Tatsuo Matsumura, Kyoko Kagawa, Hisashi Igawa e George Tokoro e a história começa com o professor renunciando ao cargo imediatamente pouco antes da Segunda Guerra Mundial e mostra o seu relacionamento com seus ex-alunos que se importam com sua velhice.


O título do filme “Madadayo” que significa “ainda não” faz alusão a uma antiga lenda japonesa de um velho homem que se recusa a morrer. E essa alusão é constantemente mencionada no filme, como em todos os anos de aniversário do professor, onde os alunos perguntam “Você está pronto?” e entre uma cerveja e outra ele responde “Mada Dayo!”, ou seja “ainda não!”.


O filme teve sua estréia no dia 17 de abril de 1993, mas não obteve uma boa recepção desapontando ainda mais que os seus dois últimos filmes. Kurosawa continuou a trabalhar nos originais do roteiro “The Sea is Watching” que seria o seu próximo filme e estava dando seus últimos retoques em 1995, quando escorreu e quebrou a base de sua espinha.


Este acidente infelizmente acabou condenando a uma vida numa cadeira de rodas para o resto de sua vida, pondo fim a qualquer esperança de dirigir outro filme. Kurosawa sempre teve o desejo de morrer no set durante as filmagens, mas isso nunca viria a acontecer. Pouco tempo depois sua saúde começou a deteriorar-se. No dia 6 de setembro de 1998, confinado na cama e ouvindo música ou assistindo a televisão, Kurosawa morreu de um acidente vascular cerebral, em Setagaya, Tóquio, com a idade de 88 anos, deixando o filho chamado Hisao e a filha Kazuko. 

Após a morte de Akira Kurosawa, várias de suas obras póstumas baseadas em seus roteiros viriam a ser produzida por outros diretores. Em 1998, foi lançado “After the Rain” dirigido por Takashi Koizumi e “The Sea is Watching” que recebeu a direção de Kei Kumai, apresentado em 2002.


Ainda um roteiro do chamado “Yonki no Kai”, que numa tradução literal  pode significar “Clube dos Quatro Cavaleiros”, formado por Kurosawa, Keisuke Kinoshita, Masaki Kobayashi e Kon Ickikawa, que foi criada no tempo do filme “Dodeskaden” foi finalmente filmado e lançado em 2000 com o título de “Dora-Heita” pelo único sobrevivente do grupo, Kon Ichikawa


Para coincidir com as comemorações do 100° aniversário de nascimento de Kurosawa, um documentário inacabado sobre o teatro Noh entrou em produção, que o cineasta havia começado na década de 80, intitulado “Gendai no No”.


Este projeto foi iniciado pelo próprio Kurosawa na época das filmagens do filme "Ran", mas ela não chegou a ser terminada, mas cerca de cinqüenta minutos do filme já havia sido concluída.  A metragem adicional segue o roteiro original e os planos de produção datam a sua finalização até 2010, mas até o fechamento desta matéria nada ainda estava confirmado.

















Principais Fontes Bibliográficas

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